POESIA: Sem título


estilhaço-me

em feixes de luz

em feixes de tinta

batom na cara

de boca-ímã


parto-me em reflexos

meus

teus

nossos

nua

na rua me esqueço

que já fui tua

e já tanto quanto eu posso me lembrar

te carrego nos ombros

e te canto baixinho no ouvido

acalentando-te o coração .


me ouve! sou tua

fui... tua

já não me encontro na tua rua

fui embora quando me deparei com teu portão cerrado

desalentada demais

já fui

vou andando

escrevendo e revivendo

coisas que nunca fiz

sentimentos que nunca senti

sobre um alguém que não conheço

nunca amei

nem vi sorrir .


esmigalho palavras no papel

simplesmente

e sozinha no quarto

em minha companhia

me despeço de coisas que já não fazem mais sentido

e planejo feitos longínquos demais .


estou eu no presente?

que me foi dado

embrulhado

com uma dedicatória em caneta brilhante?

gente é pra brilhar

e eu só estou refletindo as luzes do espelho

estilhaçado no chão quente do quarto


Estraçalha-me com linhas tortas e cortantes

Pra ver se eu mudo


30/05/2020, madrugada

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